sábado, 9 de julho de 2011

Porém

Queria ter vivido mais, porém, a mediocridade sempre me foi farta e generosa nos caminhos que escolhi para viver.

Queria ter sido mais alegre, porém, a tristeza sempre me foi companheira fiel nos dias intermináveis de abandono.

Queria ter amado mais as pessoas que conheci, que fingi que conheci, porém, na maioria das vezes eu também não me conhecia.

Queria ter andado mais livre, porém, algemado a ignorância perdi muito tempo tentando voar sem se quer ter asas.

Queria ter lido mais livros, porém, analfabeto de ousadia, passei muitos anos enxergando pelos olhos adormecidos de outras pessoas.

Também queria ter escrito mais poemas do que bilhetes de desculpas , porém, as palavras sempre me vieram como desculpas e não como estrelas.

Queria ter roubado mais beijos e abraços das meninas que andavam desprotegidas, protegidas pela magia da infância, porém, cresci muito cedo e a timidez sempre me foi uma lei muito severa a ser comprida.

Queria ter pensado menos no futuro, porém, o passado simples nunca me foi o melhor presente, e a eternidade sempre me pareceu coisa de gente que tem preguiça de viver.

Queria ter sido um homem mais humilde, porém, a vaidade e a ganancia sempre me cercaram de mimos e coisas que até hoje não sei pra que serviram.

Queria ter pregado mais a paz, porém, como um covarde gastei muita munição tentando atingir amigos e desconhecidos que não usavam coletes a prova de balas nem blindados no coração.

Queria ter sido mais forte, porém, ri dos vencidos e bajulei os mais ricos. Sempre me pareceu o caminho mais curto para os esconderijos secretos das minha fraquezas.

Queria ter dito mais a verdade, porém, a mentira sempre me foi moeda de troca para comprar o respeito e a admiração das pessoas fúteis de almas vazias.

Queria que o mundo fosse mais justo, porém, avarento desde nascença fui o primeiro a esconder o Sol com a palma da mão antes que o vizinho o fizesse. E mesquinho por vocação escondi as noites com Lua para que os poetas não as cortejassem.

Queria ter dito mais besteiras, porém, fui desses idiotas, amantes das proparoxítonas e sujeito oculto nos bate-papos de botecos de esquina onde a vida não acontece por decreto.

Hoje queria ter acordado mais cedo, porém, temo que pra mim seja tarde demais.


Sérgio Vaz

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